Ora aqui fica uma sugestão de um daqueles blogs regionais que, só os "filhos da terra" compreenderão a verdadeira dimensão épica da coisa: O Charrôque da Prrofundurra.
Charrôque é o nome que damos a um peixe (uma espécie de tamboril pequeno) que depois de ser pescado ronca produzindo um som semelhante ao dos porcos mas, charrôques são também os nativos de Setúbal, que usam uma pronúncia acentuada no R, normalmente cuja actividade é ligada ao mar. Hoje em dia a maioria dos setubalenses não têm esta forma de falar, e as actividades profissionais deixaram de ser na sua exclusividade relacionadas com o mar, até porque Setúbal, teve até ao início da década de 90 um crescimento notório devido às migrações maioritariamente provenientes do Alentejo. Inclusive a gastronomia sofreu alterações e hoje é bastante comum servirem-se migas com peixe assado, açordas com vários tipos de mariscos, etc...
A minha família é um exemplo de como hoje as populações estão "miscigenadas" pois, do meu lado materno, é tudo alentejano e do lado paterno, são todos charrôques. Eu sou um produto desta nova realidade em Setúbal, assim como a maior parte da minha geração e por isso, é uma pena o nosso tão peculiar sotaque estar apenas reservado aos bairros piscatórios. A origem deste dialecto remonta ao século XIX, aquando das invasões napoleónicas. Muitos franceses instalaram-se na cidade e mais tarde foram eles os gestores das indústrias conserveiras de peixe durante a revolução industrial (tal como os ingleses exploraram vinho, no Douro). Depois existem certos sons anasalados - como em: pirum (perú), geinte (gente) ou menza (mesa) - que provém directamente das gentes vindas da região da Ria de Aveiro, pescadores com embarcações próprias que ocuparam o bairro das Fontaínhas. Por fim, as terminações com E em vez de O, são sobretudo herança da migração algarvia que ocupou o lado oposto da cidade (Troino, Viso, Fonte Nova, Palhavã). Portanto ainda hoje é possível notar algumas diferenças entre os dialectos de bairro para bairro mas, com o passar dos anos têm vindo a tornar-se diferenças cada vez mais subtis.
O Charrôque da Prrofundurra é o lar de todas estas misturas, e onde podemos ler, tal como os setubalenses de gema falam. É essencialmente um blog humorístico, mas também uma crítica implícita e descrição do sadino de outros tempos (que ainda povoa aquela área), e sobretudo, um património popular que tem a vantagem de estar registado na Web.
Apá sóce, vesita lá o blog do mane qué pescadorr, e aprrovêta pa comprrarr umas tcherrtes.
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