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14.8.10

Mário - O Carpinteiro

Se é verdade que uma vida fácil não tem piada, então a minha tem um piadão do car...
Há duas semanas que trabalho numa empresa de carpintaria que se dedica exclusivamente à construção e renovação de telhados. Aqui nas terras baixas, as casas têm este aspecto:


A estrutura dos telhados é toda ela em madeira e somos nós que a fazemos. Portanto, o primeiro desafio tem sido familiarizar-me com o manuseamento da madeira, os cálculos que levamos em conta, como se processa, e como se concretiza. Basicamente, aprender a trabalhar.
O segundo desafio tem sido a agilidade, ou a falta dela. Temos de andar literalmente empoleirados, por vezes em ripas de madeira com 3 centímetros de largura e, se bem que não tenho grande medo de alturas, sou um indivíduo - vá lá - pesadote.
Por fim, o derradeiro desafio tem sido a língua. Se bem que o patrão fala inglês, os outros funcionários só falam holandês (com dialecto da Flandres) e nem francês entendem. Portanto tem sido árduo decorar tantos nomes de ferramentas e materiais, alguns que nem sei como se chamam em português.
Contudo, tenho notado grandes melhorias nos últimos dias e penso que tenho capacidade para lutar nestas três frentes. Força de vontade não me falta. E na minha opinião o trabalho é interessante e aqui significa um bom futuro. É uma profissão bem paga e ao contrário de Portugal, é bastante valorizada. Só me resta agarrá-la com unhas e dentes...

14.7.10

Crucificação

Se bem que me custa levantar às 6 da matina todos os dias para começar a trabalhar às 7, dias como o de hoje são equivalentes a pregos ferrugentos que me espetam nos pés. Passar a manhã em casa e sair a esta hora só para trabalhar 4 horas e meia devia ser proibido por decreto. É que, nem aproveito bem a manhã, fazendo turnos entre as notícias dos jornais portugueses e os documentários sobre ursos polares na National Geographic (as notícias não se alternam ao longo do dia, e ursos... ursos são sempre ursos) nem aproveito a porcaria da tarde. E agora alguém diz: "Foda-se Mário, ficaste a dormir até te apetecer e ainda te queixas!" Ao que eu respondo: "Não te metas na minha vida!".

7.7.10

Os meus coleguinhas

Trabalho com gente de vários países, excepto belgas. Pois, apanhar tomates numa estufa não é coisa que os nativos deste país apreciem muito. A cena deles é mais escritórios e trabalhos especializados. O resto, e até como é óbvio, fica para nós, estrangeiros oriundos de países do 3º mundo.
Feita a introdução, posso passar a elaborar a lista de características que tenho vindo a observar nos meus colegas:

Os Marroquinos
São a maioria, cerca de 20. Pelo meio há um ou outro argelino, mas eles são os próprios a afirmar que é tudo a mesma merda. O primeiro aspecto a realçar é que gritam muito, e muito alto. Ao início pensava que se chateavam a toda a hora mas não, é mesmo deles. Comem com as mãos e todos do mesmo prato, e sempre, invariavelmente frango ou cabrito com molho amarelo. Ao pequeno-almoço mergulham pão em azeite e acompanham com leite. Uvas são comidas como azeitonas, a acompanhar a refeição. Cantam enquanto trabalham e fazem rezas aos gritos. Alguns (os mais conservadores) rezam 5 vezes ao dia, de joelhos , com o tapete virado para Meca, claro.

Os Polacos
São 4. Muito reservados até dizermos a palavra "vodka". Aí escangalham-se a rir e a fazer sinal positivo com o dedo. Apanham tomate para comer nas 3 pausas, para puderem comprar álcool no fim-de-semana, presumo...

O Macedónio
É a minha boleia. Bom conversador mas com um aspecto completamente assustador. Um bocadinho mentiroso, mas eu finjo que acredito e somos ambos felizes. Nunca o vi beber água. Coca-cola ou Ice Tea é o que hidrata aquele homem. Tem alergias à planta e as abelhas picam-lhe demasiadas vezes, não sei porquê.

O Ganês
Foi jogador de futebol, agora apanha tomate. Passa as 10 horas a falar ao telemóvel através do auricular, e o mais engraçado é que faz gestos, como se conversasse com um Casper do Gana, mais escurinho que o do desenho-animado claro. Come esparguete com carne picada quase todos os dias, e quando não é isso, é arroz com carne picada. Leva toneladas de tomate para casa o que me leva a crer que quando acabar o trabalho ali vai abrir uma multinacional de ketchup.

O Português
Rapaz dotado de grande capacidade intelectual, extremamente bonito e bem educado.

5.6.10

Não morri, ando na apanha do tomate

Perdoem-me senhores e senhoras mas, desde que comecei a trabalhar na estufa não tenho tido tempo para vir aqui. Voltei aos horários de trabalho abrutalhados. Saio de casa às 6 e volto perto das 19, tal como quando trabalhava na ETAR de Bruxelas e, tirando os dias que vamos a casa de família jantar ou tomar café, restam pouquinhos que usamos para dar uso à nossa box Belgacom, onde agendamos previamente a gravação de filmes (tipo Meo, presumo).
Lá no trabalho corre tudo bem, faz amanhã um mês que comecei. Como é lógico não há um único belga a não ser o patrão, portanto sou eu, 20 e tal marroquinos e 4 polacos. Como me entendo com eles? Os polacos falam inglês e os marroquinos francês ou nederlands. Confusão. Tive de ir buscar o francês ao baú, mas já consigo manter algu!mas conversas.
Nos primeiros dias, levantava-me cedíssimo e ia de bicicleta até à estação, apanhava o autocarro e depois andava uns 20 minutos a pé; depois arranjei uma bicicleta desdobrável para levar comigo no bus, chegar ao destino e pedalar até ao trabalho; agora, vou com o Aziz de carro, muito melhor, tirando a parte de ter de levar com música árabe em volume de me rebentar os tímpanos desde que entro no carro até sair.
Em relação às minhas funções propriamente ditas, variam consoante os dias. Às 2as, 3as e 5as corto troços de tomate e meto em cestos que são transportadas num carrinho. Às 4as e 6as corto os ramos de folhas para não fazerem sombra à fruta e assim poderem crescer mais rápido. Não é duro mas muito cansativo, porque são funções de repetição como numa linha de montagem, 10 horas por dia. A parte, a modos que lixada, é a temperatura. Ontem estavam 30 graus na rua, e quando saí parecia-me fresco. Pois, lá dentro pode chegar aos 40 e tal, 50 graus, num ambiente húmido. Uma espécie de micro-clima tropical...
Transpiro que nem um porco mas, estou satisfeito por ter finalmente encontrado um trabalho remunerado em condições.


Tem sido esta a minha vida durante a ausência destas lides, e penso que continuará a ser nos próximos meses, portanto, a actualização deste espaço será esporádica. Adicionem-me nos vossos Feed Readers, se tiverem. Se não tiverem, não deixem de cá vir ò mastronços.

19.4.10

O Chef, o Prazo e a Escola

Desde o início da semana que estou a trabalhar a tempo inteiro no restaurante. E como se sabe, horários de restaurante são tudo menos ortodoxos. E a pausa de 3 horas à tarde mata-me, porque o corpo amolece, e começa a habituar-se ao dolce fare niente. Em relação à minha progressão neste novo emprego, posso dizer que está a ser satisfatória. Já faço pizzas e começo agora a brincar com a massa e a passá-la de mão p'ra mão para poder esticá-la mais rapidamente. Também já sou eu que trato das lasagnas, caneloni's, e de tudo o que seja frito, o que faz com que, durante a semana não precisamos de mais ninguém na cozinha a não ser eu e o chef.

Havia um problema do qual nunca cheguei a falar aqui que, agora também já está resolvido: o meu prazo de estadia no país acabava dia 29 de Abril. Até esse dia teria de obter um contrato de trabalho para poder tornar-me residente português na Bélgica. Caso não o arranjasse, teria de sair 3 meses do país para depois voltar mas, essa hipótese estava fora de questão, bastando-me portanto a alternativa de ficar trancado na casa da minha mãe ou dos meus sogros durante esse tempo, já que, a polícia viria cá a casa controlar, e caso eu fosse encontrado no país, pagaria uma multa avultada, seria extraditado e só podia cá voltar ao fim de 5 anos. Como podem imaginar estes últimos dias têm sido intensos e tanto eu como a Joana, temos sido duas pilhas de nervos prestes a explodir. Mas agora, o contrato está assinado e foi reencaminhado para Bruxelas, restando-me apenas esperar uma cartinha para ir à stadhuis de Mechelen levantar o meu cartão.

Hoje vou à escola de nederlands inscrever-me. Talvez daqui a uns tempos comece a escrever os posts em duas línguas, not. 

6.4.10

Jamie Mário Oliver


Bem, ainda não tinha anunciado mas, finalmente arranjei trabalho e estou agora (desde dia 31) no período "à experiência". Mudei completamente de ramo pois os tempos que correm e a crise que já passou mas que faz perdurar os seus efeitos e/ou desculpas assim o ditam. Recorde-se - ou, para quem não sabe - que sou mecânico naval, com formação de um ano realizada nas instalações da Lisnave em Setúbal e mais um ano de experiência no mesmo local. Depois disso, aliciado por melhores salários rumei a Eindhoven (Holanda), onde trabalhei um par de meses na SmitOvens (construção de fornos industriais para a cozedura de painéis solares). Durante todo o ano passado, dei o ar da minha graça em Bruxelas (Bélgica), numa das maiores estações de tratamento de águas residuais da Europa, onde, assim como nos dois empregos anteriores, cumpria funções directamente ligadas à serralharia. Agora, desde o início do ano que me encontrava desempregado e não foi por falta de procura. Inscrevi-me em todas as empresas de trabalho temporário em Mechelen e Antuérpia (são mesmo muitas), também fiz uma ficha no Centro de Emprego e corri grande parte das estufas da área. Nada, por vezes promessas, muitas vezes falsas promessas. Agora, e por intermédio do Luís (companheiro da minha mãe) que é o chef do Riccione da Enzo, sou ajudante de cozinha. Um ajudante que ainda precisa de alguma ajuda mas, com o tempo vou-me aperfeiçoando. O trabalho não é leve, nas horas de clientela é até stressante e tem de haver coordenação motora para poder desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo mas, é talvez o trabalho menos pesado fisicamente que já tive. E por isso até me congratulo por ter começado a minha vida laboral num estaleiro naval. Começando pelo pior, tudo o que vier a seguir é encarado de forma positiva. O único contra é o horário, normal para quem trabalha na restauração, ou seja: 11h/15h-pausa- 18h/23h, fins-de-semana incluídos, sendo a segunda-feira o dia livre...

8.3.10

Vantagens do Emigrante

Foi tão bom poder sugerir frases ofensivas para com os seus colegas de trabalho, e ouvir a Joana a repeti-las, sabendo que os mesmos colegas nunca iriam perceber que ela estava a chamar-lhes ursos da merda.

4.2.10

Avante camarada

Bem, para quem não sabe, presentemente faço parte daquela "pequena" percentagem de pessoas que não tem emprego. Desde dia 23 de Dezembro que estou desempregado e ando a correr tudo o que são empresas de trabalho temporário. Inclusive já esgotei todas as que existem em Mechelen e, amanhã, tentarei nas de Antuérpia. Hoje, voltei mais animado da minha luta, mas o segredo está em tentar em todo o lado, várias vezes, até que haja algo concreto, em vez de me deixar iludir à primeira indicação positiva...
As estufas só começam em meados de Março, e a crise também não ajuda mas sinceramente, estou esperançado. Alguma coisa há-de aparecer. E num país com tanto tráfego marítimo, precisarão de mecânicos navais com toda a certeza. Talvez Mechelen, por ser um meio mais pequeno tenha sido um sítio menos bom para começar.

Nota: Este post de repente, tornou-se num exercício de auto-motivação.

10.10.09

I'm a jamaican in New York

Faz hoje um ano que desembarquei em Bruxelas. A esta hora, já tinha mais de uma hora de voo e estava muito nervoso. Era a primeira vez que voava sozinho, ainda para mais sabia que tão cedo não poderia voltar a Portugal.
Deixei grande parte da família (porque o resto vive por estas bandas), os amigos, a minha cidade, tudo ficou para trás. Durante dois meses, trabalhei em Eindhoven (Holanda) durante a semana e passei alguns fins-de-semana em Antwerpen (Bélgica), entre a casa do meu pai e a da minha tia. Para alguns, a minha viagem foi um acto de cobardia e bla bla bla mas gostava de os ver passar por algumas situações que passei, e por momentos de solidão que só quem está sozinho fora do país compreende. Hoje tenho tudo muito mais facilitado. Mudei-me para Antwerpen, tenho uma relação feliz com a pessoa mais maravilhosa deste mundo, trabalho com o meu pai, tio e primo, a minha tia mora por cima, e entretanto trouxe a minha mãe e o meu irmão para cá. Hoje sinto-me me casa. Faltam algumas pessoas mas, eu já vivia antes delas entrarem na minha vida. E sinceramente não me arrependo de nada. Lutei para ter aquilo que me faz sentir feliz e não tenho qualquer tipo de vergonha em sublinhar que trabalho numa ETAR, e que muitas vezes preciso usar galochas de borracha para proteger os pés de lamas biológicas a que eu, carinhosamente chamo merda. Mas essas galochas já possibilitaram não deixar faltar nada à minha mãe no primeiro mês que cá esteve (que conseguiu trabalho em regime efectivo - graças à Joana e à sua família - e que no dia 1 de Novembro vai morar para a sua própria casinha), nem tão pouco ao meu irmão que se está a integrar muitíssimo bem numa escola belga onde aprende diariamente o holandês.
Confesso que me acho subvalorizado no meu trabalho e que consigo bem melhor mas, também sei que não abracei a carreira de alma e coração e que esta é apenas uma fase de transição até que me sinta realizado. De qualquer forma, para mim, a realização profissional é secundária. Já trabalho há alguns anos em coisas que não gosto e a única vez que me fui abaixo foi quando fiquei desempregado. Tenho espírito de sacrifício. Há quem não o tenha.
Feita a nota comemorativa do primeiro ano fora de Portugal, e do breve resumo do que isto tem sido, peço que fiquem atentos aos próximos posts. Ainda não decidi qual a regularidade com que actualizarei esta coisa, depois aperceber-se-ão...